Mensagem de D. José Ornelas para a Quaresma 2019
“Caminho de encontro e partilha solidária”
Quaresma, tempo de encontro e de partilha
O tempo de Quaresma que estamos a iniciar propõe-nos um caminho de (re)encontro connosco mesmos, com Deus e com as pessoas com as quais partilhamos a existência. É um convite a criar atitudes de relacionamento verdadeiras, sãs e solidárias. Atitudes concretas e não apenas palavras ou desejos, de modo que a qualidade dos nossos relacionamentos possa gerar harmonia, justiça, paz e esperança.
Neste ano em que a nossa Diocese dedica especial atenção aos jovens e se inicia um triénio de preparação para as Jornadas Mundiais da Juventude de 2022, acolhemos o desafio de marcar a nossa Quaresma por atitudes reais de encontro/partilha. “Partilha(-te)” foi mesmo a palavra-chave que os nossos jovens escolheram para orientar este caminho. O compromisso proposto tem três aspetos: a) partilhar/abrir a própria vida ao projeto/vocação de Deus; b) partilhar a própria experiência de fé na família/comunidade; c) partilhar/ anunciar a fé entre aqueles que a não têm. Esta proposta não é apenas para os jovens, mas é o que a Quaresma propõe para qualquer etapa da vida, para cada um/a de nós.
Partilha/Encontro com Deus
No primeiro domingo da Quaresma, é-nos apresentada a caminhada de Jesus para o deserto, impelido pelo Espírito Santo (Lc 4,1-13). Aí é tentado e confrontado com outros projetos e caminhos que, parecendo vias de satisfação e sucesso, são apenas manifestações do espírito do mal, que destrói, divide e isola. Nesse encontro com o Pai, Jesus recusa deixar-se levar por ilusões e sonhos de glória vã, para discernir e projetar o seu caminho, a sua missão neste mundo.
Este é o primeiro sentido do caminho quaresmal: o encontro com Deus. Guiados por Jesus, somos conduzidos, especialmente neste tempo, à leitura da Palavra de Deus, à escuta da voz do seu Espírito no nosso coração, à busca dos seus projetos para a nossa vida. Esse encontro será a ocasião para escutar a voz poderosa e carinhosa do Pai do céu, para sentir-se filhos e filhas que Ele ama, protege e conduz. Será também ocasião para libertar-se de modos de ser que contradizem as opções fundamentais da nossa vida e põem em causa o relacionamento com os outros. Atitudes concretas desta busca do rosto de Deus podem ser, por exemplo, a leitura diária do Evangelho de Lucas, que marca o caminho da Igreja durante este ano; o dar tempo à oração pessoal, familiar e paroquial; o recurso ao sacramento da reconciliação.
Partilha de vida e de fé na família/comunidade
Lemos no Evangelho que aqueles que foram escutando a Palavra de Jesus se foram reunindo à volta
dele, formando uma comunidade de discípulos que foi a semente da Igreja. A adesão a Jesus começa no encontro pessoal com Ele, mas conduz-nos a uma comunidade.
A atitude de quaresma deve levar-nos a participar na vida, nas celebrações e iniciativas da nossa comunidade, paróquia e diocese; a interrogar-nos onde é que fazem falta e podem ser úteis, a nossa presença e as nossas capacidades. Neste ano particularmente dedicado aos jovens, cada comunidade é chamada a abrir-se aos mais novos, a deixar-se interpelar por eles e a dar-lhes espaço e voz. Por sua vez, é importante que os jovens se comprometam ativamente (se partilhem) na sua comunidade, nas suas celebrações e serviços, na sua programação e nos seus projetos. Precisamos uns dos outros e Deus precisa de todos para tornar atraente a sua casa, particularmente para quem anda errante e precisa da proximidade de um irmão ou irmã que os reconduza à casa do Pai.
Partilha missionária com quem precisa
Este ano foi também designado pela Conferência Episcopal de Portugal como ano missionário. O sair de si e o partilhar-se na comunidade cristã, só se completa com o abrir-se ao mundo, fazer parte de uma “Igreja em saída” como diz o papa. Tendo encontrado o Pai no deserto, Jesus dirige-se à comunidade da sinagoga da sua terra. Aí, lê a Escritura para a comunidade anunciando: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres. Ele enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.” (cf. Lc 4,14-21). A partir daí, toda a ação de Jesus será realizar este projeto de presença salvadora de Deus no meio dos homens. Uma ação destinada a libertar as pessoas de todas as opressões, alienações e debilidades, a abrir-lhes horizontes de vida que vão para além do viver humano e se encontram com a vida de Deus.
O caminho de Jesus é também a nossa atitude de quaresma: faz-nos abrir os olhos ao mundo inteiro, àqueles que estão fora da comunidade, aos que estão abandonados e feridos, aos que embarcaram em caminhos de felicidade ilusória que os destrói, aos que não conhecem o Evangelho e ficam limitados em si mesmos. Uma forma concreta de tornar real esta atitude poderá ser aproximar-se e ajudar uma pessoa em dificuldade, ou ajudar alguém das nossas relações a encontrar ou reencontrar o caminho que leva ao conhecimento do Senhor Jesus e do seu Evangelho.
Como expressão desta atitude quaresmal, criou-se o bom costume de ter um objetivo comum da nossa Diocese, como abertura a quem mais precisa através da nossa privação e jejum. Este ano, a nossa renúncia quaresmal terá, como é hábito, dois objetivos, sendo um de solidariedade interna de Setúbal e outro de abertura às necessidades do mundo:
- Partilha mais próxima: alimentar o Fundo Diocesano de Emergência, que assiste as situações especiais de carência.
- Partilha universal: Ajudar a Igreja da Venezuela na crise extrema dos pobres que a ela
recorrem.
Com estas três atitudes de partilha, desejo a todos um caminho de quaresma, guiado pelo Espírito do Senhor, partilhado em Igreja e orientado para a missão de anunciar a Boa Nova a todos a começar pelos mais necessitados.
+ José Ornelas Carvalho
Bispo de Setúbal
Fonte: https://diocese-setubal.pt/
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